23/10/20
Já é sabido que, cada vez mais, as redes sociais...
Já é sabido que, cada vez mais, as redes sociais ganham espaço na vida da população e, consequentemente, na dos médicos. Para discutir esta questão, sob a ótica da ética médica, a presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Irene Abramovich, participou, em 14 de outubro, do I Simpósio Interligas, promovido pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul, em formato online.
Um dos maiores problemas vistos nas mídias sociais, segundo Irene, versa sobre a publicidade médica, que muitas vezes vem acompanhada das famosas fotos de ?antes e depois?, comumente utilizadas em áreas vinculadas à estética, para despertar a atenção e o interesse do público, principalmente envolvendo temas vinculadas à estética. ?Medicina é atividade de meio, não de resultado. É extremamente antiético prometermos milagres ou garantirmos determinadas melhorias aos pacientes, ludibriando-os?, comentou, afirmando que posturas como essa levam, na maioria das vezes, a uma quebra de confiança por parte do assistido.
A relação médico-paciente, caracterizada pela presidente como o alicerce da profissão, é fortemente prejudicada quando há promessas e garantias de resultados que, em sua maioria, não procedem. Para ela, os médicos devem se comprometer a fazer o seu melhor, agindo com transparência e sinceridade, independentemente da circunstância ou da expectativa de quem está sendo atendido.
?É válido ressaltar que temos o Código de Ética Médica (CEM), com normativas específicas voltadas à publicidade médica. Há um código moral que deve ser seguido, dentro e fora da internet?, reforçou Irene. A médica também explicou que, ao identificar infrações nas redes sociais, o Cremesp encaminha as informações à Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos (CODAME), pertencente à autarquia, responsável por discutir e definir as eventuais penalidades cabíveis para cada caso.
As fake news e a divulgação nas mídias sociais de medicamentos que ainda não possuem comprovação científica também são motivos de grande preocupação para a presidente, já que acaba, muitas vezes, sendo um incentivo a automedicação ? prática extremamente temerária, que pode colocar em cheque a saúde do paciente.
Relação médico-paciente
Irene destacou que a ética é intrínseca à Medicina e, portanto, deve reger todas as condutas médicas, principalmente durante o atendimento. Por isso, é importante que o profissional saiba ouvir e conversar com paciente, utilizando uma abordagem e linguagem que ele compreenda. ?Não adianta utilizar somente termos técnicos e deixar o assistido com dúvidas. Temos que lembrar que a pessoa que está ali está confiando em nós, ela tem nome e sobrenome, deve ser tratada com respeito e equidade?, ressaltou.
Outro assunto abordado por Abramovich foi em relação ao prontuário médico, que representa a vida do paciente dentro da instituição. A médica chamou atenção para a necessidade de preenchê-lo adequadamente, de forma legível e detalhada, para que os demais profissionais saibam, com convicção, qual é o quadro clínico do assistido, caso o responsável pelo atendimento inicial não esteja presente ou não possa participar no momento.
Irene finalizou sua exposição salientando que os médicos precisam compreender que o paciente tem direito a ouvir segundas opiniões, e que isso não deve ser considerado como uma afronta ou falta de confiança. ?Medicina a gente aprende a vida toda. Nós somos passíveis de erro e ninguém detém todos os saberes. Por isso, é importante termos humildade para entender que não há nada de errado em escutar outras interpretações?.
A mesa redonda ?Ética médica nas redes sociais? foi organizada e mediada pelo discente de Medicina da USCS e presidente da Liga Acadêmica de Cirurgia Plástica e Queimados, Guilherme Quedinho, e contou com a participação do advogado e presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem), Raul Canal, e do cirurgião plástico Marco Flávio Mastrandonakis.
*Informações do Cremesp